Entrevistas
Rui Almeida

Rui Almeida, 51 anos, afirma ser olivicultor desde sempre: “O meu pai era agricultor e eu na escola já queria ser agricultor. Contra tudo e contra todos, consegui. Queriam que eu seguisse outros caminhos, os tempos eram diferentes.
Tenho um filho com 18 anos. Está a terminar o 12º ano, quer seguir agricultura e será bem vindo, pois para além de me dar jeito, acho que a agricultura não é desprezável como foi considerada por muitos em determinada altura. Hoje ser agricultor põe-nos num patamar muito elevado. Lembro-me das oliveiras desde sempre, nem que fosse a que tinha no quintal.”
Neste momento trabalha com olivicultura, vinha e pecuária. É sócio de duas cooperativas, uma para a uva, outra para a azeitona. “Temos de nos agarrar às cooperativas com unhas e dentes, porque se não fossem as cooperativas hoje não seríamos o que somos e tudo o que nos rodeia”. Refere que num contexto de grande competitividade, as agroindústrias privadas esperam que as cooperativas lancem os preços para que possam avançar. “É muito fácil estarmos no mercado, mas temos um ponto de referência que são as cooperativas.”
Na sua atividade agrícola, a olivicultura é a actividade principal: ”Comecei só com olival tradicional, mas neste momento tenho 3 captações do Alqueva e por isso converti 50% do olival tradicional em olival de regadio intensivo. As variedades que tenho são cobrançosa, picual, muita cordovil, galega e verdeal. Plantei há 4 anos galegas e, recentemente, cobrançosa e picual. Estou satisfeito com todas as variedades, pois o método de apanha é com recurso ao uso do ‘guarda-chuva’ e todas funcionam muito bem e com pouca mão de obra, pois é muito complicado ter grandes grupos a trabalhar, principalmente com esta pandemia.”
Apesar de tudo, afirma ser mais apreciador de um bom vinho do que de um bom azeite. “Se me derem um azeite num ensopado de borrego não sei dizer, mas numa açorda, molhando o pão nos coentros, sei dizer se o azeite é bom. O Azeite da Cooperativa ganhou um estatuto muito elevado e na prateleira dos supermercados está sempre em vantagem em relação aos outros azeites. Na minha casa, não uso outro azeite que não seja o de Moura, porque se não formos nós a puxar por nós, não serão outros a puxar.”
Na sua opinião, a diferença do Azeite da Cooperativa é o facto de, enquanto muitas variedades de azeite estão exclusivamente firmes em olivais intensivos, a Cooperativa ter uma grande percentagem de azeites de galega, verdeal e cordovil, das DOP, e isso é sem dúvida um factor de diferenciação. “Não é por acaso que Moura é uma região demarcada de olival e Reguengos de vinho. Os antigos não eram parvos e se se começou aqui a apostar e a avançar no olival é porque era uma zona com características específicas.”
“Temos de continuar a ser dos primeiros, não em produção, mas em qualidade. E nós, os sócios, temos de fazer a nossa parte para que assim seja, cumprindo aquilo que nos pedem e divulgando o nosso produto.”
Afirma não conseguir beber azeite, mas sabe distinguir um azeite e prefere o mais suave, de galega. “Quem não gosta de molhar o pão nos temperos da açorda?!”
Conclui com a mensagem: “O meu pai já era sócio da Cooperativa, eu continuei e sempre tenho sido defensor e apologista desta casa, nos momentos bons e maus. Quando é necessário faço críticas construtivas, considerando que é meu dever chamar a atenção para tentar melhorar. Esta Cooperativa nos dias que correm, e isto já vem desde há alguns anos, salda as suas contas em maio, de azeitona entregue em Fevereiro, devendo ser a única a fazer este percurso. Isto é muito importante!”