Entrevistas
Manuel Fialho
Manuel Mariano Ribeiro Fialho nasceu em Moura, a 25 de Setembro de 1942.
Licenciado em engenharia mecânica, exerceu vários cargos de gestão, por mais de quatro décadas, em Portugal e no estrangeiro, entre os quais o de Gerente da Cooperativa, entre 1992 e 2012. Não sendo olivicultor, são-no vários dos seus familiares diretos, sócios da Cooperativa de Moura e Barrancos.
Iniciou a sua responsabilidade como Gerente da Cooperativa no início de 1992, quando regressou do Brasil, depois de vários anos de experiência na gestão de subsidiárias de empresas multinacionais. Tendo cumprido serviço militar na guerra colonial, na Guiné, recorda a importância do azeite nesse contexto: “Se não desses à tropa bacalhau cozido com batatas e azeite estavas tramado!”.
Nesse mês de Fevereiro de há 30 anos, confessa, o seu conhecimento sobre a situação financeira da Cooperativa quase o levou a declinar o convite de dois grandes amigos, o Manuel de Brito e o João Costa. Decidiu definitivamente aceitar o desafio quando viu sair de uma velha carrinha Peugeot, junto à Sede do BES em Lisboa, sete dos mais dedicados sócios, entre eles o mais velho, o Sr. Joaquim Matado, por sinal o mais optimista de todos. Sentiu que havia naquele grupo uma força para vencer, e quis ajudar a resolver os problemas da Cooperativa.
“O Manuel de Brito abria as portas”, recorda, “e assim chegaram ao Secretário de Estado da Agricultura e deste à sua colega das Finanças (muito mais difícil de convencer)”. Começaram de imediato a preparar todos os elementos necessários e, nove meses depois, “entrava na conta da Cooperativa a quantia que a permitia voltar a respirar”.
“Mas as dores de cabeça não terminavam: de facto, a Cooperativa pagava a azeitona mal e a más horas. Era preciso trazer de volta os sócios. Esse terá sido talvez o esforço mais difícil, com reuniões em Moura e nas aldeias.” Acredita que essas reuniões foram fundamentais para incentivar o espírito de grupo na Cooperativa.
Não esquece o trajeto quase meteórico da evolução da Cooperativa desde a sua formação, quando comprou o Lagar do Sr. Vitor Guedes, onde hoje é um armazém de materiais de construção. A Cooperativa adquiriu depois o lagar do Sr. Fernandes Costa e, por fim, o lagar da Sociedade dos Azeites, da família Almodôvar. Acredita que esta tenha sido a época mais fulgurante da vida da Cooperativa, mas com um grande senão: “O conhecido passo maior do que as pernas. E foi bem grande, exaurindo todas as possibilidades de acesso ao crédito.” Recorda as conversas com o Sr. Leonardo Matado, cooperador dedicado, que o fazia ver a sua incapacidade para refrear o ímpeto dos sucessivos investimentos.
Entende que atualmente o setor configura uma situação de competitividade cada vez mais séria e sabe que não há absolutamente nada mais importante numa cooperativa, como a de Moura e Barrancos, do que remunerar competitivamente e o mais cedo possível as produções dos associados. Refere também que este é um dos elementos da boa gestão, e que “é a boa gestão que faz a diferença”. Tal como são elementos da boa gestão a informação de mercado, um planeamento bem executado, a logística associada e a qualidade do azeite. Lembra a este propósito, que a variedade “Cordovil é uma paixão antiga”.
“Falei-vos sobretudo da área industrial, que foi a minha. Mas é importante lembrar que nas minhas torradas, de manhã, nem um pingo de manteiga. Para quê se temos azeite de tanta qualidade?!”